Universidade

      A entrada na Universidade é sempre motivo para comemoração. Ao entrar temos apenas uma vaga idéia do que representa essa enorme estrutura. Para se ter uma noção, o orçamento da UFSC para 2011 é de aproximadamente 780 milhões de reais, mais que o dobro do orçamento de municípios como Chapecó (para 2010) ou Balneário Camboriú  (para 2011).
     Diante disso, é impossível não nos perguntarmos a serviço de quem está se aplicando tanto investimento. Grande parte dessa verba pública é destinada a pesquisas que visam beneficiar o crescimento do lucro privado (grandes empresas como a Whirpool – antiga Embraco –, Natura cosméticos, WEG equipamentos elétricos, etc. possuem laboratórios a seu serviço dentro da UFSC). Enquanto isso a Universidade tem fechado os olhos para os problemas mais fundamentais do povo brasileiro, como a concentração de terras, o déficit habitacional, a precarização da educação básica, transporte coletivo, saúde pública e tantos outros. Sem falar que, dentro da própria UFSC, vários direitos conquistados pelo movimento estudantil hoje se encontram ameaçados, tais como moradia estudantil, bolsa permanência e RU. Muitos colegas nossos abandonaram seus cursos por falta de condições – não conseguiram conciliar trabalho e estudo. Há apenas 1 vaga para cada 130 estudantes na moradia estudantil, o número de bolsas é insuficiente e não tem reajuste há anos.
       Esta retirada de direitos dos estudantes afunila ainda mais o gargalo da universidade. Muitos de vocês, que acabaram de entrar na universidade, tiveram de passar por uma etapa muito difícil e também uma das características mais arcaicas da Universidade: o vestibular. Ele é, na verdade, um grande funil que seleciona, com base no mérito individual, os “mais aptos” a cursarem a Universidade, transformando o que deveria ser um direito universal em um privilégio. No Brasil, apenas 10% dos jovens em idade universitária estão dentro da universidade. Existem 6,5 milhões de universitários no país. Destes, apenas 1,5 milhão estão realmente exercendo o direito à educação, já que os outros 5 milhões estão pagando por ela numa universidade privada. Dentro da UFSC somos pouco mais de 20 mil estudantes e devemos lutar para que o acesso a ela seja universal e que o vestibular, ou qualquer outra forma de seleção, seja extinto.
      O REUNI (Programa de Reestruturação e Expansão) – projeto iniciado no governo Lula, que diz visar à expansão da Universidade pública – na verdade institucionalizou a precarização do ensino superior. Ele alardeia a expansão de vagas, mas não expande nem modifica o caráter do orçamento. 
      Qualquer proposta de expansão de vagas sem expansão do investimento é engodo! O aumento das verbas para a educação ficou só na propaganda eleitoral. O PIB do Brasil cresceu perto de 7,8% em 2010. A presidenta Dilma, em continuidade, no seu pacote de corte orçamentário para este ano de 2011, incluiu a redução de 10% da verba destinada às Universidades Federais. Como pode a educação receber cortes em vez de aumentos? O governo quer nos fazer escolher entre expansão e qualidade como se as únicas alternativas fossem universidade elitista ou expansão precarizada.
      Sentimos na pele o resultado dessa política: falta sala de aula, taxas acadêmicas, falta generalizada de professores, e inclusive cursos novos são criados com estruturas precarizadas e insuficientes. Essa privatização da educação também afeta os trabalhadores da Universidade. O número de professores efetivos e de servidores técnico-administrativos está sendo reduzido e eles sofrem com a sobrecarga de trabalho. Ao mesmo tempo aumenta-se o número de terceirizados e de professores temporários, contratos que precarizam a condição de trabalho, a prestação de serviço e a educação.
       Mudar tudo isso depende também de termos mais espaço para opinar sobre os rumos da universidade. Quando falamos de democracia na UFSC, logo pensamos no direito do voto para escolha dos nossos representantes (desde reitor à representantes nos conselhos). Porém nossa Universidade se mostra uma das instituições mais antidemocráticas e conservadoras. O voto e as representações nos conselhos deliberativos são totalmente desiguais. Os estudantes têm a menor participação nas escolhas, tanto no voto (que vale apenas 10%, enquanto o dos servidores vale 20% e o dos professores 70%) quanto nos conselhos, apesar de sermos a grande maioria na Universidade. O que o movimento estudantil (ME) acredita é numa maior democratização e paridade: lutamos por voto Universal (assim como no CFH já acontece), em que o valor do voto é igual para todos, além de uma participação igual de estudantes, técnicos e professores nos conselhos deliberativos.
      Porém, a democracia na UFSC não se resume a estes aspectos colocados anteriormente, a democratização da produção do conhecimento científico e tecnológico é de fundamental importância. Para que a Universidade fosse realmente transformada, seria preciso romper com as amarras de diversas empresas que vem parasitando os investimentos públicos, apropriando-se do conhecimento cientifico e tecnológico. Acreditamos que a luta pela democratização na Universidade deve se dar com muita organização e que o ME tem um papel primordial nessa disputa (pressão radical de baixo para cima), transformando a relação entre a sociedade e a Universidade, em prol da emancipação humana.